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Albufeira Sempre

Diário sobre Albufeira.

Albufeira Sempre

Diário sobre Albufeira.

Poeta e pedagogo algarvio

albufeiradiario, 08.03.10

JOÃO DE DEUS

NASCEU HÁ 180 ANOS

ZÉ D'ALBUFEIRA                            João de Deus (in O Ocidente, 1878).

Passa hoje, 8 de Março, o 180º aniversário do nascimento do grande vate algarvioJoão de Deus. A efeméride é comemorada em S. B. de Messines, sua terra natal, com um conjunto de iniciativas que visa manter viva a memória do eminente poeta e pedagogo, que a História pátria regista como o poeta do amor e criador da 'Cartilha Maternal', pela qual  gerações de portugueses aprenderam as primeiras letras. Ainda hoje, é utilizada com êxito nos Jardins-Escola de que é patrono.

Dele disse um dia Eça de Queiroz, outro enorme vulto da nossa literatura: "João de Deus é a alma poética do povo português".

 

      Amor

Não vês como eu sigo

Teus passos, não vês?

O cão do mendigo

Não é mais amigo

Do dono, talvez!

 

Ao pé de uma fonte

No fundo de um vale,

No alto de um monte

De vasto horizonte,

Sem ti estou mal!

 

Sem ti, olho e canso

De olhar, e que vi?

Os olhos que lanço,

Acharem descanso,

Só acham em ti!

 

Os ventos que empolam

A face do mar,

E as ondas que rolam

Na praia, consolam

Tamanho pesar?

 

As formas estranhas

De nuvens que vão

Roçando as montanhas,

Em ondas tamanhas,

Distraem-me? Não!

 

A pomba que abraça

No ar o seu par,

E a nuvem que passa,

Não tem essa graça

Que tens a andar!

 

Parece o pezinho,

De lindo que é,

Ligeiro e levinho,

O de um passarinho

Voando de pé!

 

O rosto, há em torno

Da pálida oval,

Daquele contorno

Tão puro, o adorno

Da auréola imortal!

 

Não sei que luz vaga,

Mas íntima luz,

Que nunca se apaga,

Me inunda, me alaga,

Se os olhos lhe pus!

 

Eu amo-te, e sigo

Teus passos, bem vês!

O cão do mendigo

Não é mais amigo

Do dono, talvez!

 

In "Campo de Flores"

 

Elas aí estão uma vez mais (cada vez menos...)

albufeiradiario, 29.01.10

AS AMENDOEIRAS EM FLOR

ZÉ D'ALBUFEIRA            d.r.

Janeiro a entrar pelo mês do Entrudo, eis que se manifestam, mejestosas e seguras, incontornáveis na sua beleza natural, as últimas resistentes da luta, sempre desigual e sempre repetida, contra o crescimento urbano. As amendoeiras em flor.

À beira da plena floração, adornam com ternura os campos sequiosos do Algarve. Incomparáveis. Fascinantes até à medula. Alvura ímpar e inesquecível, a suscitar a memória das grandes lonjuras da neve branca e fria que o rei nórdico quiz um dia fazer reflectir no Algarve, para alegria e libertação da sua princesa encantada.

O espectáculo único, deslumbrante, encantador das amendoeiras em flor tolda-nos completamente os sentidos. Não tem, nos limites do imaginável, qualquer motivo de comparação a brancura rosada da neve algarvia.

Quase todos os poetas deste rincão sulino cantaram, cada um à sua maneira, as belezas infindáveis da floração das amendoeiras. Mas, para mim, o poema mais belo, mais encantador e mais condizente com o sentido profundo do povo genuíno do Algarve é aquele que um dia rimou a nossa conterrânea, a poetisa Marquinhas Elói ("Madressilva") - Maria da Conceição Elói de seu nome de baptismo.

Não me canso, por isso, de repetir - já é a terceira ou quarta vez que o faço neste blog, sempre com profundo amor pela minha terra e por aqueles que a souberam cantar superiormente - os versos dessa discreta mulher algarvia que aguarda, no recato dos ricos de espírito que aqui peregrinaram como simples, humildes, mortais, que à sua mensagem poética seja reconhecido pelos viventes o valor que ela realmente encerra.

*fotos ALBUFEIRAsempre

 

 

AMENDOEIRAS FLORINDO

AO LUAR

Maria da Conceição Elói 'Madressilva'

[n. Paderne em 31/08/1898  f. Faro em 7/12/1979]

.

Ao de leve

De mansinho

Cai a neve

No caminho…

 

E o luar desce do céu

Como um véu

De uma noiva encantadora,

Que a cismar

O estendesse a voar

Aos pés de Nossa Senhora.

 

E por toda a Natureza,

Como um murmúrio de reza

Fica nossa alma a sonhar,

Absorta horas inteiras

Na branca luz do luar,

Na flor das amendoeiras.

 

Umas de cândida alvura

- Que nem a neve mais pura –

E a cor das outras rosada,

Aquela mimosa cor

Com que o celeste Pintor

Tinge o céu de madrugada.

 

Charnecas são um encanto,

As planícies outro tanto

E assim,

Em cada canto e recanto,

O Algarve é um jardim!

 

E a lua sobe a sonhar,

Envolta em véu de tristeza,

Que a sua voz – o luar

Tem mistérios de beleza…

 

Anda um perfume ao de leve,

Vago e breve,

A evolar-se no ar…

No céu azul, luz e cor,

Há pétalas no caminho,

E o vento ensaia baixinho

Uma alegria de amor.

 

Vem o orvalho chorar

Pelos vales e montanhas

Diamantes a brilhar,

Em que depois o luar

Põe fulgurações estranhas

 

Oh! meu Algarve! Canteiro

Que no Inverno é mais lindo,

Com seu luar de Janeiro

E amendoeiras florindo!

 

Lançado na Biblioteca Municipal

albufeiradiario, 18.12.09

SANTOS SERRA

PUBLICA NOVO LIVRO DE POESIA

ZÉ D'ALBUFEIRA                                       

Manuel dos Santos Serra apresentou hoje na Biblioteca Municipal Lídia Jorge, perante uma plateia bem recheada de amigos e admiradores, a sua mais recente obra literária: o livro de poemas a que deu o sugestivo título de "Labirinto de Memórias".

Esta é a oitava obra publicada do ilustre médico, homem de letras e político albufeirense, à beira de completar a provecta idade de 84 anos. Uma vida inteira dedicada ao serviço dos outros, particularmente no desempenho da profissão que abraçou e ainda hoje exerce em plenitude no seu consultório da Rua Direita, lado a lado com uma muito intensa intervenção social ao longo de décadas. Mas também na prática de prestigiado trabalho intelectual, contínuo e profícuo, e no exercício combativo da cidadania. É por demais conhecida a sua acção cívica em prol de grandes causas populares, em Albufeira e no Algarve.

 

A poesia de

albufeiradiario, 10.06.09

Maria da Conceição Elói (Madressilva)

 

  Camões vivo em nós

.

Hoje faz anos que morreu Camões,

O iluminado épico imortal

D’ Os Lusíadas, que em todas as nações,

“Espalhou por toda a parte” Portugal.

 

Com seu “engenho e arte” magistral,

Erguendo ao alto nobres tradições,

Cobriu de glória a Pátria sem igual

E é uma glória em nossos corações.

 

Cantou como ninguém soube cantar,

E a sua vibração foi como o mar

Erguendo em notas de oiro a sua voz.

 

Centenas de anos datam esse dia,

E a mesma voz vibrante de energia

Ecoa, ainda, em cada um de nós!...