Filho insigne de Albufeira
BEATO VICENTE DE SANTO ANTÓNIO
não tem recebido dos conterrâneos o tratamento que lhe é devido
ZÉ D'ALBUFEIRA
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Passa no próximo domingo, dia 3 de Setembro, mais um aniversário da morte do Beato Vicente de Santo António.
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Filho ilustre de Albufeira, onde nasceu em 1590, Vicente de Carvalho (de seu nome civil) dedicou-se, por vocação e amor a Deus, à vida eclesiástica.
Depois de uma existência atribulada, em que passou por vicissitudes de vária ordem, sempre por amor a Deus e ao próximo, este nosso conterrâneo foi missionário no Oriente numa época em que Portugal e os portugueses procuravam implementar naquelas paragens os valores da civilização ocidental e a doutrina cristã.
No Japão, 'passou vida tormentosa, sofrendo o atroz martírio das águas sulfurosas e por fim o suplício do fogo' [*]. Tudo 'para dilatar a doutrina' [*] de Jesus Cristo, a que se entregara com uma fé indómita.
Quando colocado na fogueira para ser consumido pelas chamas, os verdugos ataram-lhe um dedo ao tronco com um fio muito fácil de partir, dizendo-lhe que, se quisesse renegar a fé cristã, poderia desprender-se do tronco e libertar-se da imolação.
Não o fez, optando por morrer fiel a Cristo!
Este nosso conterrâneo, descoberto para os albufeirenses e para a História de Portugal pelo saudoso Padre Semedo, ainda não mereceu da população de Albufeira e dos seus autarcas (mesmo dizendo-se cristãos, alguns, e reconhecendo que a esmagadora maioria da população o é) a atribuição de uma rua ou uma escola (ou ambas, por que não?) com o seu nome.
É oportuno referir que o nosso Beato Vicente é o único mártir algarvio. Pelo menos que se conheça.
Pois mesmo assim é ignorado pelas forças vivas da nossa terra. Quer dizer, não é totalmente ignorado, porque as festas em sua honra, em anos de eleições, sempre ajudam a conquistar os votos de algumas famílias...
Mas ainda não conseguiram descobrir (porque verdadeiramente não têm vontade para o fazer) um cantinho qualquer da nossa cidade ao qual atribuir o nome deste distinto albufeirense.
Parece ridículo, não é? Numa terra onde há ruas e becos e praças e pracetas baptizadas com nomes de pássaros e flores e de gente medíocre que passou por aqui apenas para se servir ou que, sendo de cá natural, nada fez pela comunidade - é ridículo que os responsáveis não vislumbrem um sítio qualquer para ostentar o nome de Beato Vicente de Santo António. Ou São Vicente de Albufeira, como já lhe chama o Cónego Rosa, certamente confiante na futura canonização.
Mais: existem em Albufeira uma rua, uma travessa e umas escadinhas com o nome de São Gonçalo de Lagos (também chamado santo, mas ainda beato)!
Gritante hipocrisia. Farisaísmo, com mais propriedade me permito chamar-lhe, significando embora o mesmo.
PARÓQUIA TEM CULPAS NO CARTÓRIO
A própria Paróquia não está em meu entender isenta de culpas nesta matéria.
Após vários anos de ignorância do legado cultural do Padre Semedo e da sua acção em prol da divulgação da vida e obra do Beato Vicente, foi o respectivo culto retomado há sensivelmente década e meia. Porém, negligenciando factos e testemunhos que se perderam no tempo. E deixando de lado ex-colaboradores do antigo prior de Albufeira, fiéis à devoção do beato aqui nascido, os quais poderiam ter dado um contributo muito válido nesta cruzada.
Parece que tudo começou de novo, quase sem ligação ao passado. Quando, afinal, do que se deveria tratar é de celebrar o passado para construir o futuro. Das novas gerações paralisadas numa encruzilhada sem ninguém a apontar-lhes o rumo certo. Vulneráveis a falsas referências. Que diariamente as seduzem pela televisão, em forma de telenovelas de cordel. Valorizando a desagregação da Família e padrões morais contrários aos valores que nos enformam.
EM CASA DE FERREIRO...
Um acólito natural de Albufeira, que afirma sentir o Beato Vicente como irmão, propôs há meses que o grupo de acólitos que integra, constituíndo-se em associação de erecção canónica e de direito civil, tomasse a designação de Associação de Acólitos de S. Vicente de Albufeira e adoptasse no logotipo a criar uma figura estilizada daquela criatura de Deus.
Em resposta, passou a ser timbrado papel com o nome de Associação de Acólitos de Albufeira, encimado por um logotipo construído com elementos que nada têm a ver com o beato nosso conterrâneo.
Por outro lado, a Conferência de S. Vicente de Paulo, que em variadíssimas paróquias tem tomado nomes de santos de culto local predominante, há muito poderia (deveria) ter assumido a designação do nosso Beato Vicente. Salvo a existência de alguma razão impeditiva. Que não conheço.
Assim, é (bem mais) difícil convencer a sociedade civil da bondade de adoptar o nome e a memória do ilustre filho de Albufeira Vicente de Carvalho. Vicente de Santo António para a Igreja Católica Apostólica Romana.
[*] da pagela de orações para pedir graças por intercessão do B. Vicente
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