Manta de retalhos
ALBUFEIRA PÓS-POLIS
ZÉ D'ALBUFEIRA ![]()
Qualquer leitor bem intencionado que me leia vê que eu não tenho nada, absolutamente nada, de primário contra o Polis. E não tenho, de facto.
O que me move é tão-somente manifestar o meu desagrado - que é o desagrado da esmagadora maioria dos albufeirenses, sinto-o - pelo descalabro que foi (e continua a ser) a intervenção de tão doutos engenhocas, certamente com "canudo" e inscritos na Ordem dos Engenheiros, que se deram (dão) ao luxo de destruir coisas que na nossa urbe tinham alguns laivos de arquitectura tradicional, de memória colectiva do nosso povo.
Ainda por cima, o que é mais grave, com o beneplácito dos eleitos locais que, beneficiando de uma esmagadora maioria, legitimamente obtida nas urnas, se prestaram ao frete de ignorar a vontade de quantos os elegeram, para representar o papel de dóceis serventuários dos iluminados mentores do pseudo-modernismo urbanístico que se instalou entre nós, proveniente do Parque das Nações, como se Albufeira e os arrabaldes de Lisboa fossem a mesma coisa.
Mas não são.
O Parque das Nações foi construído para acabar com um monte de esterco existente à volta da capital. Não tinha tradição arquitectónica a seguir. Podia servir (e serviu) de laboratório para novas experiências pseudo-futuristas dos tais doutos engenhocas.
Albufeira é uma cidade mediana, na costa sul de Portugal, de características mediterrânicas, antiga vila de pescadores, de origens e com influências que se perdem na História. Na qual havia sido possível, até à chegada dos iluminados, preservar muito do encanto e do romantismo que fizeram dela, a partir dos anos sessenta, a "menina bonita do turismo algarvio".
Agora, não passa de um remendo urbanístico. Mal ataviado, diga-se em abono da verdade. Que não agrada a ninguém. É como uma camisa de seda com um remendo de ganga. Ou vice-versa. Para gáudio de um bando de engenhocas que por aqui passou a coberto do programa Polis.