OBRA DE VÍTOR DE SOUSA NARRA ALBUFEIRA DO SÉCULO PASSADO
"TEMPOS QUE PASSAM,
RECORDAÇÕES QUE FICAM"
ZÉ D'ALBUFEIRA
Foi com um misto de alegria e satisfação que soube da publicação do livro do Vítor de Sousa.
Não fiquei surpreendido pela qualidade da obra, pois outra coisa não era de esperar da pena e da objectiva deste cidadão dos sete ofícios, jornalista exímio e devotado fotógrafo amador, de rara sensibilidade, dos anos sessenta/setenta.
O desencanto, porém, abateu-se sobre mim quando constatei que "Tempos Que Passam, Recordações que Ficam" saíu à luz do dia com o patrocínio de uma entidade exterior a Albufeira, a cidade cujo passado fecundo ele tão bem ilustra. Na prosa e na imagem. Mas, sobretudo, no espírito de salvaguarda da memória colectiva do nosso povo.
Vitor de Sousa é um velho conhecido dos albufeirenses. Muito fez no Diário de Lisboa pela divulgação da "vila branca em mar azul" do poeta Ramiro Guedes de Campos, a "Saint Tropez de Portugal" venerada e visitada pelas grandes estrelas do firmamento internacional quando o Algarve despertou para o turismo.
Não percebo, não consigo compreender, como a Câmara Municipal não soube aproveitar esta oportunidade soberana de se comprometer com a História recente de Albufeira e das suas gentes.
Fiquei deveras confuso quando, na sessão de apresentação realizada na Biblioteca Municipal, a que tive o privilégio de assistir, o líder do Município afirmou aos circunstantes que o Vítor de Sousa, quando quisesse, no futuro, poderia contar com o apoio da Câmara.
Por quê no futuro e não agora?
Haviam-me chegado rumores, após a exposição de fotografias que assinalável êxito obteve no ano passado, de que o autor estaria em conversações com o pelouro da Cultura para eventual patrocínio do livro... E, afinal, a afirmação do edil, ao soltar a idéia de que não conhecia as referidas conversações, deixam claramente entender que há efectivas deficiências de comunicação no seio do executivo.
Por que não editou a edilidade ela própria o livro, incluindo-o no acervo histórico que é sua obrigação preservar?
Penso que a Câmara de Albufeira continua a oferecer melhor tratamento aos "artistas" vindos de fora para sacar umas massas nos nossos palcos e nas nossas galerias, do que àqueles que aqui se sacrificaram e sacrificam em prol do colectivo local, neste caso particular, da cultura e da memória que é parte inseparável da nossa essência de cidadãos de Albufeira.
Dir-me-ão que o Município adquiriu ao autor uma centena de exemplares da obra editada. O que por si constitui já uma ajuda. Mas é muito pouco. Porque a obra de Vitor de Sousa não é "sua". Pertence ao domínio da propriedade intelectual gregária dos albufeirenses!