Explicação técnica da catástrofe
d.r.
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ABEL M. J. SILVA, engº civil
Sobre o que aconteceu ontem, 1 de Novembro, em Albufeira, tentarei ser um pouco mais racional e menos emocional.
Para além dos danos materiais e emocionais sofridos por muitos dos albufeirenses, que lamento profundamente e de que espero sejam rapidamente ressarcidos, gostaria de referir que a situação que se verificou não tem nada a ver com o Programa Polis ou com os órgãos autárquicos dos últimos anos.
Como todos sabem, existe a Ribeira de Albufeira que, em tempos, atravessava a então vila pelo percurso da actual Avenida da Liberdade, Largo Engº Duarte Pacheco (conhecido como Meia Laranja, nome derivado da curva que a ribeira aí fazia) e Av. 25 de Abril (antiga Av. Eduardo Rios) até à Praia dos Barcos. Atendendo às cheias periódicas que se verificavam, e que estão documentadas, foi decidido canalizar a ribeira. E aí começou o desastre! A canalização, como se verifica pela foto anexa, e que é sobejamente conhecida, tem uma secção manifestamente insuficiente para o caudal normal da ribeira e, muito menos, para um caudal de cheia.
Como compreendo que nem todos os albufeirenses são peritos em hidráulica fluvial, lembro que cada linha de água tem dois leitos, o leito normal e o leito de cheia. Pelo que se percebe da imagem é lógico que uma cheia, mesmo de pequena dimensão, galgaria facilmente o paredão e a água correria pelo seu encaminhamento normal.
Nos últimos anos essa canalização foi aumentada por duas vezes, quando foi construído o Eixo Viário e quando, mais recentemente, foram feitas as novas obras da entrada de Albufeira. Em nenhuma dessas obras foi acautelada a secção de vazão com capacidade para comportar uma cheia de grande dimensão (cinquentenária ou centenária, isto é, com possibilidade estatística de se verificar uma vez em cada cinquenta ou cem anos, respectivamente).
Como se sabe, o que aconteceu ontem deveu-se a um aumento bastante grande do caudal da ribeira, tanto que começou por inundar a entrada do Parque de Campismo e depois, por os órgãos de drenagem existentes não conseguirem suportar o caudal afluente, as águas seguiram, pela superfície, o caminho "tradicional": Avenida da Liberdade, Meia Laranja, Av. 25 de Abril até à Praia dos Barcos, sendo o seu caudal acrescido de todas as águas afluentes do Cerro de Malpique, Cerro da Alagoa e Cerro da Piedade, devido à impermeabilização resultante da construção intensa e da pavimentação de vias de circulação.
Peço desculpa pela extensão do comentário mas achei que era devida uma explicação minimamente técnica e racional, para além das compreensíveis manifestações emocionais.