Maria da Conceição Elói (Madressilva)
d.r.
ZÉ D'ALBUFEIRA
Tive o privilégio de privar em pequeno com a D. Marquinhas Elói (era amiga da minha mãe), a saudosa Madressilva, poetisa e escritora de verve romântica da Albufeira rústica do século passado. Infelizmente esquecida por quem hoje, nesta terra, tem responsabilidades na cultura.
Dela retenho a graciosidade do sorriso envergonhado dos simples que são grandes por dentro.
Tinha tanto de modéstia quanto de amor e cultura, transmitidos ao próximo como só a sua alma apaixonada sabia, através da escrita, sobretudo da poesia, e de uma vivência profundamente cristã.
Para a lembrar aos esquecidos e dá-la a conhecer aos novos, reproduzo, com a devida vénia, um texto do livro "Quem Foi Quem? - 200 Algarvios do Século XX", da autoria da também algarvia Glória Maria Marreiros (Edições Colibri).
Jornalista e escritora, MARIA DA CONCEIÇÃO DE SOUSA ELÓI nasceu em Paderne-Albufeira a 31 de Agosto de 1898 e faleceu em Faro no dia 7 de Dezembro de 1979.
Desde criança revelou capacidade poética. Na escola primária era frequente fazer versos dedicados às colegas e à professora (...).
Maria da Conceição Elói, ficou-se pela sua terra. Recebeu "prendas" de menina filha de pais com algumas posses: francês, piano e os imprescindíveis lavores. Ansiava por mais, mas era o que havia...
Um dia, em conjunto com três amigas, decide fazer um jornal, cuja finalidade primeira era ajudar um ceguinho pobre. As quatro concordaram com o título: A Avezinha. Como era moda então, cada uma escolhe o seu pseudónimo: Maria Feliciana Marim foi "Violeta"; Maria Mendes Biker, "Rosa"; Maria do Espírito "Hortênsia" e Maria da Conceição Elói "Madressilva".
Todas poetisas, constituíram um bouquet inovador, já que foi o primeiro jornal criado por mulheres.
As primeiras edições foram manuscritas pelas redactoras, e a distribuição realizada por voluntários. Mais tarde, o jornal passou a ser impresso.
A Avezinha viveu durante 15 anos, graças ao grande esforço e vontade das suas fundadoras, realizando um trabalho pioneiro na história da imprensa feminina portuguesa.
Problemas vários, acrescidos pelo afastamento, para o Brasil, de uma das fundadoras, levaram à interrupção do jornal, mas Maria da Conceição continuou a produzir. Concorreu a dezenas de jogos florais, onde ganhou vários 1ºs. e 2ºs. prémios e muitas menções honrosas.
Com os ventos da liberdade, 38 anos depois do seu nascimento, A Avezinha voltou ao ninho, renascida de um longo período de obscurantismo nacional [N.R. - graças ao esforço e à tenacidade desse insigne jornalista albufeirense (também de Paderne) que é Arménio Aleluia Martins, seu actual director].
Maria da Conceição Elói tinha então 76 anos. É convidada para directora do jornal que ajudou a fundar. Modestamente pretende recusar, por fim aceita, talvez reflectindo, e bem, que nunca é tarde para prosseguir um sonho interrompido.
"Madressilva" não foi apenas poetisa, escreveu novelas, crónicas jornalísticas e contos, tendo, nesta modalidade, sido premiada pela revista Mundo Rural. Livros, com alguma mágoa sua, não publicou. Essa devida homenagem lhe fizeram o jornal A Avezinha e a Santa Casa da Misericórdia de Albufeira, editando "Ecos da Minha Voz", eloquente livro de poesia, onde se encontram os mais belos sonetos da autora (...).