Coádras de António Aleixo
Nomes feios há mais de um...
Mas calcula a tua classe,
Que não conheço nenhum
Que inda ninguém te chamasse!
Só quando sinceramente
Sentimos a dor de alguém,
Podemos descrever bem
A mágoa que esse alguém sente.
Até nas quadras que faço
Aos podres que o mundo tem,
Sinto que sou um pedaço
Do mesmo podre também.
Ser artista é ser alguém!
Que bonito é ser artista...
Ver as coisas mais além
Do que alcança a nossa vista!
A arte é força imanente,
Não se ensina, não se aprende,
Não se compra, não se vende,
Nasce e morre com a gente.
A arte é dom de quem cria;
Portanto não é artista
Aquele que só copia
As coisas que tem à vista.
Se o meu livro se consome,
Pode-me cobrir de glória,
Mas, depois, a minha história
Dirá que morri de fome.
Queria que o mundo soubesse
Que a dor que tortura a vida
É quase sempre sentida
Por quem menos a merece.
Oh! Quem me dera, sozinho,
E em quatro versos somente,
Contar ao mundo inteirinho
A mágoa de toda a gente.
Quem canta por conta sua
Quer ser, com muita razão,
Antes pardal, cá na rua,
Que rouxinol na prisão.