"O povo é sereno"
RESCALDO DAS CHEIAS
ZÉ D'ALBUFEIRA
O líder da ACOSAL, Luis Alexandre, estima em declarações ao "Diário de Notícias" que os prejuízos provocados pelas cheias de anteontem ultrapassem o meio milhão de euros.
Face à disponibilidade manifestada pelo presidente da Câmara - que interrompeu umas curtas férias para renovação do gabinete que ocupa nos paços do concelho e declarou à Agência Lusa não excluir a hipótese de ajudar os comerciantes - é pertinente que se coloque a seguinte questão: não teria saído mais em conta ao erário público ter dado ouvidos oportunamente aos contestatários da intervenção Polis no subsolo e ter obrigado à colocação das infra-estruturas adequadas, de acordo com o bom senso e com as normas técnicas aconselhadas por quem sabe da poda?
Parece mais uma vez concluir-se à posteriori, por força das circunstâncias e pelo reconhecimento da verdade dos factos, que o autismo dos políticos perante os dados concretos apontados pelos que legitimamente deles discordam, em atitude de autêntico absolutismo, despropositado e pernicioso, leva à perda inconsequente de meios e bens, em prejuízo (quase sempre) do colectivo.
Estamos em presença de estragos de monta de que são vítimas, em primeira mão, os comerciantes afectados pela enxurrada. Mas que pesarão inevitavelmente e a breve trecho sobre o Município e os munícipes, habituados estes a ter de pagar pelas asneiras dos que, em sua representação, ocupam o poder.
Tudo teria sido evitado, nada disto teria acontecido se, em devido tempo, a arrogância dos engenhocas do Polis (e também de alguns autarcas e técnicos da autarquia) não se tivesse sobreposto ao diálogo e à concertação próprios dos regimes democráticos e de dirigentes impolutos e dotados de verdadeira e desinteressada consagração à causa pública.
O que vai valendo aos que ingloriamente desperdiçam os recursos públicos é que "o povo é sereno", como afirmava uma proeminente figura do prec já desaparecida. Tão sereno que, ainda ontem, em pleno rescaldo da inundação, me foi dado ouvir de uma mulher de meia idade este desabafo: "o pior é se, depois desta desgraça, não resta dinheiro para o foguetório!"