Questões pertinentes
NA RESSACA DAS CHEIAS
ZÉ D'ALBUFEIRA
Deixámos propositadamente que assentasse a poeira, melhor dizendo: que escoasse a água, para uma análise necessariamente breve e despretensiosa e desapaixonada sobre os dramáticos acontecimentos que abalaram Albufeira na última semana. E cujas marcas são ainda bem visíveis (sê-lo-ão por quanto tempo?) na baixa da cidade, particularmente entre os comerciantes que viram o seu futuro posto em causa, enquanto empresários, uma vez que alguns deles, despojados dos seus haveres, e sem apoios palpáveis à vista (ainda agora começou, em cima do joelho, a catalogação dos prejuízos) vêem um futuro muito nebuloso à sua frente, acossados que estão pelo espectro da falência.
Desejando porventura sacudir a água do capote, fazendo esquecer as suas responsabilidades, sugerem agora alguns responsáveis que se promova uma "feirinha" de salvados, como se isso resolvesse alguma coisa.
A pergunta mais candente que se apodera da cabeça dos albufeirenses é: como foi possível, em apenas uma semana, sofrer três cheias sem que, logo a partir da primeira, se tivesse tomado medidas práticas de prevenção? Como, por exemplo, com utilização de uma retro, ter reposto o caneiro a céu aberto existente junto à antiga retrete (requalificado pelo Polis), por forma a que escoassem por ele as águas em excesso?
Outra questão em aberto, e que, tal como a anterior, denota completa ausência de verdadeira e actuante Protecção Civil, é esta: por que não mandou a Câmara entaipar, com pequenos muretes tipo comporta, que servissem de barragem, os estabelecimentos mais atingidos, para evitar novas investidas da enxurrada?
Afinal, a dita Protecção Civil só serve para duvidosas campanhas nas escolas e folclóricas inaugurações de espaços de "divulgação", com o fito único de aparecer nos órgãos de propaganda do executivo, editados pela Câmara com o nosso dinheiro, e nos jornais locais, subsidiados pela Câmara com o nosso dinheiro?
E quanto à regularização da rede de escoamento das águas pluviais que o Polis deixou tão maltratada? Apenas assistimos, de momento, a ligeiras e desenxabidas declarações de intenções. O que é que já começou a ser feito? Irá o Polis suportar os encargos inerentes?
E o povo, em cujo nome tudo se faz mas que sempre é ignorado pelos seus representantes, irá começar a ser ouvido? As opiniões dos munícipes, que oportunamente contestaram a pomposamente designada de intervenção Polis, passarão a ser escutadas por quem de direito?
Agora se percebe porque recusaram os edis a cedência do auditório para discussão pública dos resultados (nefastos!, está à vista de todos) do Polis na nossa santa terrinha.
QUEIXA NO MINISTÉRIO PÚBLICO
A ACOSAL, associação representativa da maioria dos comerciantes da baixa de Albufeira vítimas das inundações, decidiu apresentar queixa no Ministério Público, para apuramento das responsabilidades pelos danos causados, supostamente, pelo deficiente planeamento, execução e acompanhamento das obras do Polis.
Esperemos que a urgente regularização das anomalias no terreno não tenha de aguardar pela decisão do MP. Pelo andar da carruagem a que este nos habituou, ainda irá a baixa de Albufeira sofrer muitas cheias.