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Albufeira Sempre

Diário sobre Albufeira.

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Albufeira de outros tempos

albufeiradiario, 02.02.09

A FEIRA DO PAU ROXO

ZÉ D'ALBUFEIRA                     

Se a tradição ainda fosse o que era, ocorreria por estes dias a Feira do Pau Roxo.

O Largo de S. Sebastião (primeiro) e, em épocas mais recentes, o jardim da Meia Laranja enchiam-se de toneladas de cenoura roxa (vulgo pau roxo), comprada aos quilos pelos naturais desta pacata vila de pescadores e pequeno comércio. Cozida e conservada em azeite, constituiria ao longo do Inverno o acompanhamento privilegiado das refeições das famílias albufeirenses de então.

Na Rua Direita, junto à bomba do Mário Vargas, transaccionavam-se os frutos secos. E ao alto das escadinhas do túnel e na garagem do dr. Nuno, as carnes e enchidos de porco.

Naquele tempo de miséria, em meados do século passado, embora houvesse os talhos do Carlos Ventura, do Caixinha e do "Pai d'Céu", muita gente se abastecia de carne neste dia junto dos produtores alentejanos que aqui afluiam com "porco caseiro". A carne era conservada "debaixo de sal" num caixote ("salgadeira") e, mais tarde, utilizada à medida das necessidades, em particular quando, por via das tempestades no mar, o peixe faltava. 

Retenho na memória a imagem de um desses alentejanos, o Ti Cavaco, proprietário de uma mercearia e tasca rústicas junto à passagem de nível do Carregueiro, em cujo quintal se matava o porco, preparavam as carnes e enchiam as chouriças [ainda não havia a ASAE]. Com muitos clientes em Albufeira, que mantinha de ano para ano,  recebia com especial carinho os habitantes da nossa terra em trânsito para a capital ou em regresso dela.

Os locais onde tudo isto se passava ainda permanecem: o Largo de S. Sebastião (Praça Miguel Bombarda), as escadas, a garagem do dr. Nuno, a Rua Direita e a Meia Laranja, esta embora amputada do jardim e meio prostituída. Algumas pessoas desse tempo, cada vez em menor número, também ainda por aqui se vão conservando, nesta terra que já não reconhecem como sua. Só dos hábitos, da vivência e do fascínio das coisas simples, mas importantes para o tecido social da altura, não restam quaisquer resquícios. Nem é nem será mais possível repeti-las. Não passam de uma saudade. Cada vez mais distante.

Retocado em 5/2/09.

 

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