Memórias
ALBUFEIRA NOS ANOS CINQUENTA
Por Alfredo Leal Franco
ZÉ D'ALBUFEIRA ![todos os caíques]()
Deixou-me deveras fascinado, transportando-me com enlevo às memórias da minha meninice, o texto que o dr. Alfredo Leal Franco (com ascendência materna na nossa cidade) publicou no blog "A Defesa de Faro" e que, com a devida vénia, achei por bem trazer aos visitantes do ALBUFEIRAsempre. A foto é pescada do Panorâmio, via Google.
Eu sou de Lisboa, mas a minha mãe era de Albufeira e a casa da família era ao lado da Praia dos Barcos. O ano todo em Lisboa arrastava-se penosamente à espera dos três meses de férias nas praias e campos deste Algarve. E era nesses campos de pomar de sequeiro, imagem fiel da milenar e original mata mediterranica, que íamos dar fogo à pinha para lhe arrancarmos os pinhõese assim como armar aos pássaros, com as agúdias - as formigas com asa - guardadas cuidadosamente num corno de boi tapado com rolha de cortiça depois de laboriosamente termos escavado os formigueiros à sua procura.
E enquanto esperávamos na madrugada que a passarada caísse na esparrela, lá nos espreguiçávamos por entre as videiras dos Salgados, saboreando as doces e suculentas uvas e espreitando alguma avionete que nessa altura aí tinha o seu aeródromo.
A alfarroba depois de moída era ensacada e transportada em barcos para o vapor inglês que aparecia de tempos a tempos em frente a Albufeira. Um dos barcos do meu avô era especializado nesse transporte, a garotada lá seguia escondida no porão e para se entreter na viagem íamos sacando e comendo aquele triturado doce que nos servia de manjar de réis.
Verdadeiros tempos da realeza da imaginação, das aventuras diárias de heróis de nariz pelado e pestanas brancas com o sal dos banhos sem parar, em que o tempo não tinha tempo e em que as pescarias das micharras ultrapassava usualmente a centena, nesses dias ao jantar o orgulho de contribuir para a economia familiar brilhava tanto como as micharras ao sair da água, prata sobre os azúis do mar e do céu.
Tempos em que as conquilhas eram transportadas nos alforjes dos burros e vendidas porta a porta aos litros medidos em caixas de madeira.
E quando voltávamos para Lisboa, claro que tínhamos que levar para a família e amigos os figos da Albuera, alguns em estrelas com "dentes" de amêndoa, encaixotados em caixas de madeira e que faziam as delícias na capital.Boas memórias de infãncia de outros tempos, faço votos que todos os tempos, embora diferentes, possam ser assim tão gratificantes e ricos para todos os que neles mergulham as raízes da sua vida.