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Albufeira Sempre

Diário sobre Albufeira.

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No próximo domingo

albufeiradiario, 11.03.09

FESTA DOS PASSOS

TRAZ RECORDAÇÕES DA INFÂNCIA

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ZÉ D'ALBUFEIRA                                

Domingo é a Festa dos Passos em Albufeira, uma das tradições cristãs ainda hoje mais vivas (e sentidas) da comunidade local. Expressão da fé de um povo que teima, ano após ano, em ser fiel a si próprio e às suas convicções, de que dá pública expressão através destas manifestações de índole religiosa. 

O aproximar desta celebração faz-me sempre lembrar a ansiedade com que nós, os moços da minha infância, aguardávamos a chegada de tão importante dia, não somente pela festa em si, mas sobretudo pela festa que era para nós poder disfrutar das primeiras amêndoas confeitadas, que naquele tempo não havia grandes superfícies comerciais e as pequenas mercearias de então só mais perto da Páscoa disporiam de tal goluseima. Logo pela manhã, antes da missa dominical, eram montadas no adro da Igreja, à porta do sr. Canedo, as barraquinhas onde se transaccionavam essas maravilhas da doçaria caseira que tanta água nos faziam crescer na boca. Havia-as de vários tamanhos e qualidades, desde os mais pequenos pinhões, até às mais gordas amêndoas moles, que se trincavam com os dentes e se desfaziam na boca num acesso de doçura inolvidável. Amontoavam-se nas bancas, sobre panos brancos, despidas de quaisquer invólucros e vendidas a peso enroladas em pequenos cartuxos de papel feitos na altura. Por causa delas, às vezes havia a tentação de tirar com uma faca algumas moedinhas do mealheiro de barro adquirido na feira para partir pelos anos, reduzindo assim o já fraco pecúlio amealhado com pequenas dádivas de tostões dos pais e padrinhos. A estes pedíamos a bênção sempre que os víamos, por filial reverência mas igualmente por mal disfarçado interesse, a ver se caía algum.

Também lembro, obviamente, a grande procissão, com os imponentes andores (os mesmos da actualidade) e muitos anjinhos, que em movimento lento percorria as ruas atapetadas de rosmaninho, quedando-se frente aos "passos" instalados em locais estratégicos. A banda de música da Mocidade com as suas fardas verdes, superiormente dirigida pelo maestro Nadais no seu inconfundível uniforme castanho. E o sermão do Encontro à porta da Igreja de S. Sebastião, onde se dizia que o Cónego Falé "até fazia chorar as pedras da calçada".

Ainda hoje, ao desfiar estas agradáveis recordações, me parece ter guardada num qualquer cantinho da memória mais profunda uma muito aprazível miscelânea de sabor de amêndoas doces, perfume de rosmaninho e imagens vivas do verdadeiro e alegre rodopio que envolvia as movimentações de tanta gente em fato domingueiro.

 

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