Um poeta do povo
ANTÓNIO ALEIXO
MORREU HÁ 60 ANOS
A SUA OBRA PERDURA PARA SEMPRE
Estátua de A. Aleixo na esplanada do café Calcinha, em Loulé, que ele frequentava
ZÉ D'ALBUFEIRA
Passam hoje sessenta anos sobre a morte do grande poeta algarvio António Aleixo. A sua vida foi um sofrimento. As suas quadras uma crítica mordaz à sociedade em que viveu. Poeta repentista, iletrado, não houve neste Algarve outro como ele. E em Portugal contam-se pelos dedos os que se lhe igualaram.
As faces ocultas, os primos e os freeports, a par das licenciaturas da Independente tiradas ao domingo, para além das jantaradas em homenagem a ex-ministros pagas por empresas públicas (ou seja, por todos nós) - fizeram-me quase esquecer, confesso, esta efeméride da maior importância para o povo algarvio e para os portugueses em geral.
ALBUFEIRAsempre, desde o início e ao longo de alguns meses, dedicou-se com devoção e entusiasmo a divulgar a obra de António Aleixo. Fizémo-lo com humildade procurando servir a cultura algarvia sem constrangimentos nem quaisquer veleidades de promoção. Quisémos apenas dar aos mais novatos naturais de Albufeira conhecimento do valor literário da obra do poeta Aleixo, tal como o fizémos em relação a outro algarvio de grandes méritos literários (e pedagógicos), João de Deus, e à grande poetisa, pessoa simples como nós, cuja timidez e descrição pessoal impediram de ir mais além - esta da nossa terra -, Marquinhas Elói.
É na senda da (fraca) acção que humildemente temos vindo a desenvolver em prol da divulgação dos grandes valores do nosso Povo, que deixamos a promessa para breve de um trabalho mais substancial sobre a vida e obra do grande António Aleixo.
DR. JOAQUIM MAGALHÃES
Não posso falar do Aleixo sem referir esse grande homem da cultura algarvia que foi o Dr. Joaquim Magalhães, com quem tive o privilégio de privar algumas vezes, ele professor de Liceu de enorme craveira intelectual e eu jovem simples, interessado pelas coisas da cultura algarvia, fosse nos liceus de Faro e Portimão, fosse à porta do Clube Albufeirenses nas suas férias de verão na nossa cidade, então ainda a pacata vila de Albufeira - que saudades, meu Deus!
Pois o Dr. Joaquim Magalhães, à data professor do Liceu Nacional de Faro, amigo pessoal e íntimo do poeta - apesar das diferenças sociais que os separavam e que, à época, eram incontornáveis - foi o grande obreiro da 'passagem a limpo' e organização da obra do poeta, para além de ter sido o mentor da publicação em vida dos primeiros livros de poemas do vate algarvio. Foi de tal maneira decisiva a acção do Dr. Magalhães, aliás hoje reconhecida por todos os estudiosos da matéria, que o poeta Aleixo lhe dedicou a seguinte coadra (como ele escrevia):
Não há nenhum milionário
Que seja feliz como eu:
Tenho como secretário
Um professor do liceu.