Poeta alentejano de Albufeira
MORREU MÁRIO GRENHO
ZÉ D'ALBUFEIRA
d.r.
Faleceu há coisa de um mês uma figura que, aos poucos, se foi popularizando em Albufeira nos últimos anos. Mercê da sua simpatia, trato afável e extrovertido - e especial vocação para fazer amigos -, o senhor Mário, assim tratado com ternura por quantos o conheciam, fixara residência entre nós após se ter reformado dos Tribunais. Traído pelos membros inferiores, viu-se impedido de conduzir e fazer longas caminhadas, tornando-se presença habitual nas carreiras do Giro. Ficou amigo de motoristas e passageiros mais assíduos. De todos recebia manifestações de carinho.
Soube da sua morte a semana passada pela própria filha, que eu não conhecia (nem ela a mim). O que não impediu que, logo ali, me tivesse incumbido de uma tarefa que cumpri com prazer: distribuir pelos amigos do senhor Mário alguns exemplares do livro de poemas por ele publicado - o que muitos de nós ignorávamos por completo, tal a sua simplicidade.
Deixou-nos, em boa verdade, mais um poeta albufeirense, não obstante nascido alentejano.
Mário Grenho, que contava 91 anos, nasceu no Redondo (Alto Alentejo), o que o levou a inserir no prefácio da sua obra a seguinte quadra:
Sou de lá, do Alto Alentejo
E de lá sempre quis ser
Os versos que faço sem pejo
São desabafos... p'ra esquecer.
Como se poderá concluir do soneto que abaixo damos à estampa, ser poeta foi um objectivo que o senhor Mário perseguiu durante toda a vida. A publicação do livro terá sido o triunfo desse desiderato.
Gostava de ser um poeta
Sempre gostei de fazer versos
Mas nunca me julguei um poeta
Sim porque não quero passar por pateta
Nem quero pensar em falsos sucessos.
Adoro de alma e coração a poesia
Mas não quero enganar a mim mesmo
Nem sequer fazer versos a esmo
E os que faço é com muita alegria
Porque é que Deus não me deu o condão
De ter nascido com uma veia poética?
Confesso-o com mágoa e até amargura
Mas sinto que os versos me vêm do coração
Talvez sem simetria, rima ou estética
Face, por certo, à minha pouca CULTURA
*foto ALBUFEIRAsempre