Poemas de JOÃO DE DEUS
Que bonita, meu amor!
Que perfeita, que formosa!
A ti puseram-te Rosa,
Não te fizeram favor.
A rosa quem há que a veja
Bandeando, sem gostar?
Mas por mais linda que seja
A rosa, quando se embala,
Não te ganha nem iguala
A ti em indo a andar.
A rosa tem linda cor,
Não há flor de cor mais linda;
Mas a tua cor ainda
É mais fina e é melhor.
Murcha a rosa (que desgosto!)
Só de lhe a gente bulir;
E essas rosas do teu rosto
É em alguém te tocando
Que parece mesmo quando
Elas acabam de abrir.
Cheiro, o da rosa, esse não,
Não, é mais do meu agrado,
Que o seu bafo perfumado,
A tua respiração.
Depois a rosa em abrindo
Vai-se-lhe o cheiro também:
A tua boca em te rindo
Só o bom cheiro exala…
E quando falas, a fala,
Isso é que a rosa não tem.
Ela o que tem, meu amor?
O cheiro, a cor e mais nada.
Confessa, rosa animada!
Que és outra casta de flor.
Os olhos só eles valem
Duas estrelas, bem vês;
Pois vozes que a tua igualem
Na doçura, na pureza,
Na terra, não, com certeza;
Agora no céu, talvez.
Não há assim perfeição,
Não há nada tão perfeito,
Mas é um grande defeito
O de não ter coração.
Nisso é que te leva a palma
A rosa, sendo uma flor
Sem voz, sem vida, sem alma,
Que abre logo à luz da aurora,
E à noite esconde-se e chora
Pelo sol, o seu amor.
Ora e se a rosa, vê bem,
Tem amor, não tendo vida,
Será coisa permitida
Tu não amares ninguém?
Supões que Deus te agradece
Essa isenção, minha flor!
Deus a ninguém reconhece
Por filho senão quem ama:
A terra e o céu proclama
Que Ele é todo puro amor