Coádras de António Aleixo
A ninguém faltava o pão,
Se este dever se cumprisse:
- Ganharmos em relação
Com o que se produzisse.
O homem sonha acordado;
Sonhando a vida percorre...
E desse sonho dourado
Só acorda quando morre!
Quantas, quantas infelizes
Deixam de ser virtuosas...
E depois são seus juizes
Os que as fazem criminosas!...
Sem que o discurso eu pedisse,
Ele falou; e eu escutei.
Gostei do que ele não disse;
Do que disse não gostei.
Tu, que tanto prometeste
Enquanto nada podias,
Hoje que podes – esqueceste
Tudo quanto prometias...
Diz que viver é sofrer...
Concordo. Mas não compreendo
Que ninguém ouse dizer
Quanto se aprende sofrendo!
Vinho que vai para vinagre
Não retrocede o caminho;
Só por obra de milagre,
Pode de novo ser vinho.
Tanto da vida conheço
Que, ao ver o mundo tão torto,
Às vezes quando adormeço,
Desejava acordar morto.
Não sou esperto nem bruto,
Nem bem nem mal educado:
Sou simplesmente o produto
Do meio em que fui criado.
Se no sentir fui distinto,
Talvez, por essa razão,
Agora levo e não sinto,
Os pontapés que me dão...