Coádras de António Aleixo
Não sei o que de mim pensam
Quando me vêem chorar;
Mas quero que se convençam
Que a dor também faz cantar.
Fiz do meu estro uma vara
Para medir a verdade
E dar com ela na cara
Do cinismo e da vaidade.
Se tudo me foi vedado,
Se vivi de tudo à míngua,
Deixai que vos mostre a língua
Com o freio bem cortado.
Se umas quadras são conselhos
Que vos dou de boa fé;
Outras são finos espelhos
Onde o leitor vê quem é.
À carta que me mandaste,
Em troca à minha, que leste,
Preferia o que pensaste
Àquilo que me escreveste.
Contigo em contradição
Pode estar um grande amigo;
Duvida mais dos que estão
Sempre de acordo contigo.
Fala!... Não te faças branco.
Não compreendes que, de resto,
Vale mais ser rude e franco
Que falsamente modesto?
Para que te não iludas
Com amigos, pensa nisto:
Foi com um beijo que Judas
Levou à cruz Jesus Cristo.
Para não fazeres ofensas
E teres dias felizes,
Não digas tudo o que pensas,
Mas pensa tudo o que dizes.