Coádras de António Aleixo
O oiro, o cobre e a prata,
Que correm pelo mundo fora,
Servem sempre de arreata
Para levar burros à nora.
Que o mundo está mal, dizemos,
E vai de mal a pior;
E, afinal, nada fazemos
Para que ele seja melhor.
Só quando a hipocrisia
Cair do seu pedestal,
Nascerá, dia após dia,
Um sol para todos igual.
Ao ver uma triste cena
Quantos, sem vergonha alguma,
Ficam dizendo: - que pena!
... Sem terem pena nenhuma.
Como és vil, humanidade!...
Não olhas para as desventuras:
As chagas da sociedade,
Podes curar, e não curas.
Como a morte é um segredo,
Quem sabe lá se, por sorte,
Os mortos têm mais medo
Da vida que nós da morte?
Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo,
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo.
Goza mais um desgraçado
Num dia de felicidade,
Do que qualquer abastado
Gozando uma eternidade.
Não vês? Onde um pardal poisa,
Poisam todos os pardais;
Nós somos a mesma coisa:
Onde um vai, vão os demais.
Tu já viste a «poesia»
Que há numa casa sem ceia,
Nem azeite na candeia,
Nem luz, se morre a do dia?...
Embora o nosso amor fosse
Doce, tinha que acabar;
O mel por ser muito doce
É que nos faz enjoar.