Estatuto de Cuidador Informal
Carta aberta
ao Primeiro-Ministro
e Partidos com assento parlamentar
d.r.
GRAÇA CANHÃO
Sou a Maria da Graça Rodrigues Canhão, divorciada, natural de Faro, residente em Albufeira, tenho nacionalidade portuguesa, venho mui respeitosamente expor a V. Exas o seguinte:
- Para quando o Estatuto de Cuidador Informal será uma realidade?
- E, quando será desbloqueado o futuro dos jovens portadores de alguma deficiência ou com necessidades especiais que, a partir dos 18 anos regressam a cada sem respostas adequadas à sua condição?
Sou mãe de um jovem de 23 anos portador do espectro do autismo com déficit cognitivo severo que, se encontra há 5 anos em casa por falta de outras soluções.
Sou cuidadora não por opção mas por imposição da situação, porque sou apenas eu. Neste entretanto completo dentro de alguns meses 4 anos, o tempo máximo previsto pela lei para cuidar de filho com deficiência ou com doença crônica, usufruindo do respectivo subsídio para tal.
Depois o que será?!
Venho por este meio questionar V. Exas porque não compreendo que, a aprovação de Estatuto de Cuidador Informal não seja uma prioridade. Num Estado de Direito democrático a primazia tem de ser, deve ser a Dignidade da Vida Humana.
Somos cuidadores sem cuidados, vidas suspensas no nada e, nesse preciso nada tudo damos. Sem horários ou outras regalias, prestamos um serviço permanente 24 sob 24 horas. Desistimos de tudo para assistirmos a tudo e, nesse tudo nada nos resta. Somos mulheres e homens com vidas interrompidas por opção ou não, rostos invisíveis da sociedade, apenas temos deveres.
Temos o presente e o futuro hipotecado, fomos deserdados de todos os direitos conquistados numa madrugada de Abril. Prestamos um serviço ao Estado português que não é reconhecido como tal.
Existem matérias que não são partidárias, não dizem apenas respeito a um só governo, são de relevância para toda a sociedade afinal, somos um país de cuidadores.
É insustentável que os jovens com alguma deficiência ou com necessidades especiais tenham o seu futuro comprometido porque, as instituições competentes esqueceram da sua maioridade e, de darem continuidade à tão apregoada inclusão. Estão agora reféns dos seus lares por falta de alternativas plausíveis, bem como as respectivas famílias e, ainda mais grave no caso das famílias monoparentais tais como a minha. Não tenho rectaguarda, sou chefe de família.
É urgente repensar o projeto de vida para estes jovens, para não ficarem "estacionados" num tempo vazio, regredindo , perdendo competências adquiridas com tanto esforço deles e consequentemente nosso também. Os 18 anos não pode significar de todo o fim de um caminho onde houve tanta luta e superação diária. Merecem um futuro digno adaptado às circunstâncias de cada indivíduo.
Como cidadã portuguesa não me demito da minha responsabilidade na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva mas, lamentavelmente os políticos do meu país demitiram-se do propósito para o qual foram elegidos, nomeadamente na protecção das minorias mais desprotegidas.
Certa de que este assunto vai merecer a atenção de V. Exas,
Apresento os meus respeitosos cumprimentos.
Graça Canhão