Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Albufeira Sempre

Diário sobre Albufeira.

Albufeira Sempre

Diário sobre Albufeira.

Poeta do amor

albufeiradiario, 08.03.11

ALGARVIO JOÃO DE DEUS

NASCEU HÁ 181 ANOS

 

ZÉ D'ALBUFEIRA                           

Passa hoje mais um aniversário (o 181º) do nascimento do eminente poeta e pedagogo algarvioJoão de Deus-  a "alma poética do povo português", segundo Eça.  

O aniversário do poeta do amor e autor da "Cartilha Maternal", pela qual gerações de portugueses aprenderam as primeiras letras, é festejado mais uma vez na sua terra natal, a vizinha São Bartolomeu de Messines.

 

Noite de amores

Mimosa noite de amores,

Mimoso leito de flores,

Mimosos, lânguidos ais!

Vergôntea débil ainda,

Tremia! Lua tão linda,

Lembra-me ainda… jamais!

 

Aquela dália mimosa,

Aquele botão de rosa

Dos lábios dela… (Senhor!)

Murchavam… mas, como a lua,

Passava a nuvem… “Sou tua!”

Reverdeciam de amor!

 

E aquela estátua de neve

Como é que o fogo conteve

Que não a vi descoalhar?

Ondas de fogo, uma a uma,

Naquele peito de espuma

Eram as ondas do mar!

 

Como os seus olhos me olhavam,

Como nos meus se apagavam,

E se acendiam depois!

Como é que ali confundidas

Se não trocaram as vidas

E os corações de nós dois!

 

Mimosa noite de amores,

Mimoso leito de flores,

Mimosos, lânguidos ais!

Vergôntea débil ainda,

Tremia! Lua tão linda,

Lembra-me ainda… Jamais!

 

 

Poesia

albufeiradiario, 01.01.11
de Carlos Drummond de Andrade                                                                       
 
                                                                       Estátua do poeta, Copacabana

 

  

Receita de Ano Novo

 

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanhe ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?) 


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
 

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

 

[Biografia]

 

Continua bem vivo na nossa cultura

albufeiradiario, 30.11.10

FERNANDO PESSOA

MORREU HÁ 75 ANOS

ZÉ D'ALBUFEIRA                           *

Faz hoje 75 anos que morreu o insigne poeta e escritor Fernando Pessoa (13/06/1888-30/11/1935), um dos maiores vultos da Língua Portuguesa e da Literatura Universal e que continua bem vivo entre nós através do seu legado intelectual.

 

Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

                    Fernando Pessoa, in Mensagem

*quadro de Mestre Almada Negreiros

 

Dia do Trabalhador

albufeiradiario, 01.05.10

O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO

VINÍCIUS DE MORAES                            

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
– Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
– Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.

 

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
– Garrafa, prato, facão –
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
– Exercer a profissão –
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
– "Convençam-no" do contrário –
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
– Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

– Loucura! – gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
– Mentira! – disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

 

Poeta e pedagogo algarvio

albufeiradiario, 08.03.10

JOÃO DE DEUS

NASCEU HÁ 180 ANOS

ZÉ D'ALBUFEIRA                            João de Deus (in O Ocidente, 1878).

Passa hoje, 8 de Março, o 180º aniversário do nascimento do grande vate algarvioJoão de Deus. A efeméride é comemorada em S. B. de Messines, sua terra natal, com um conjunto de iniciativas que visa manter viva a memória do eminente poeta e pedagogo, que a História pátria regista como o poeta do amor e criador da 'Cartilha Maternal', pela qual  gerações de portugueses aprenderam as primeiras letras. Ainda hoje, é utilizada com êxito nos Jardins-Escola de que é patrono.

Dele disse um dia Eça de Queiroz, outro enorme vulto da nossa literatura: "João de Deus é a alma poética do povo português".

 

      Amor

Não vês como eu sigo

Teus passos, não vês?

O cão do mendigo

Não é mais amigo

Do dono, talvez!

 

Ao pé de uma fonte

No fundo de um vale,

No alto de um monte

De vasto horizonte,

Sem ti estou mal!

 

Sem ti, olho e canso

De olhar, e que vi?

Os olhos que lanço,

Acharem descanso,

Só acham em ti!

 

Os ventos que empolam

A face do mar,

E as ondas que rolam

Na praia, consolam

Tamanho pesar?

 

As formas estranhas

De nuvens que vão

Roçando as montanhas,

Em ondas tamanhas,

Distraem-me? Não!

 

A pomba que abraça

No ar o seu par,

E a nuvem que passa,

Não tem essa graça

Que tens a andar!

 

Parece o pezinho,

De lindo que é,

Ligeiro e levinho,

O de um passarinho

Voando de pé!

 

O rosto, há em torno

Da pálida oval,

Daquele contorno

Tão puro, o adorno

Da auréola imortal!

 

Não sei que luz vaga,

Mas íntima luz,

Que nunca se apaga,

Me inunda, me alaga,

Se os olhos lhe pus!

 

Eu amo-te, e sigo

Teus passos, bem vês!

O cão do mendigo

Não é mais amigo

Do dono, talvez!

 

In "Campo de Flores"

 

Festival da Canção 2010

albufeiradiario, 07.03.10

CANTORIAS SEM SUBSTRATO

ZÉ D'ALBUFEIRA                    d.r.

Que saudades das canções (e do tempo em que as canções) candidatas à Eurovisão ficavam no ouvido de toda a gente, que as trauteava no dia seguinte!

Ainda hoje, passados trinta, quarenta anos, as cantarolamos, porque tiveram o condão - letra e música - de agradar pela sonoridade dos tons e riqueza de conteúdo dos versos, que nos tocaram o coração e nos disseram alguma coisa à alma, a esta coisa de ser português.

Ainda hoje, passados trinta, quarenta anos, algumas reedições obtêm êxitos estrondosos de adesão do público - até do público que, porque não era nascido, as não ouviu na altura.

Que dizer da pobreza de espírito, da falta de qualidade, da ausência de popularidade, das canções deste ano, a começar pela vencedora? Apenas que... há dias assim, em que nem sequer devíamos abrir a televisão.

*foto Festivais RTP (Google)

 

 

Poeta alentejano de Albufeira

albufeiradiario, 09.02.10

MORREU MÁRIO GRENHO

ZÉ D'ALBUFEIRA                               d.r.

Faleceu há coisa de um mês uma figura que, aos poucos, se foi popularizando em Albufeira nos últimos anos. Mercê da sua simpatia, trato afável e extrovertido - e especial vocação para fazer amigos -, o senhor Mário, assim tratado com ternura por quantos o conheciam, fixara residência entre nós após se ter reformado dos Tribunais. Traído pelos membros inferiores, viu-se impedido de conduzir e fazer longas caminhadas, tornando-se presença habitual nas carreiras do Giro. Ficou amigo de motoristas e passageiros mais assíduos. De todos recebia manifestações de carinho.

Soube da sua morte a semana passada pela própria filha, que eu não conhecia (nem ela a mim). O que não impediu que, logo ali, me tivesse incumbido de uma tarefa que cumpri com prazer: distribuir pelos amigos do senhor Mário alguns exemplares do livro de poemas por ele publicado - o que muitos de nós ignorávamos por completo, tal a sua simplicidade.

Deixou-nos, em boa verdade, mais um poeta albufeirense, não obstante nascido alentejano.

Mário Grenho, que contava 91 anos, nasceu no Redondo (Alto Alentejo), o que o levou a inserir no prefácio da sua obra a seguinte quadra:

                                                   Sou de lá, do Alto Alentejo

                                                   E de lá sempre quis ser

                                                   Os versos que faço sem pejo

                                                   São desabafos... p'ra esquecer.

Como se poderá concluir do soneto que abaixo damos à estampa, ser poeta foi um objectivo que o senhor Mário perseguiu durante toda a vida. A publicação do livro terá sido o triunfo desse desiderato.

 

Gostava de ser um poeta

 

                                      Sempre gostei de fazer versos

                                                   Mas nunca me julguei um poeta

                                                   Sim porque não quero passar por pateta

                                                   Nem quero pensar em falsos sucessos.

 

                                                   Adoro de alma e coração a poesia

                                                   Mas não quero enganar a mim mesmo

                                                   Nem sequer fazer versos a esmo

                                                   E os que faço é com muita alegria

 

                                                   Porque é que Deus não me deu o condão

                                                   De ter nascido com uma veia poética?

                                                   Confesso-o com mágoa e até amargura

 

                                                   Mas sinto que os versos me vêm do coração

                                                   Talvez sem simetria, rima ou estética

                                                   Face, por certo, à minha pouca CULTURA

*foto ALBUFEIRAsempre

 

Elas aí estão uma vez mais (cada vez menos...)

albufeiradiario, 29.01.10

AS AMENDOEIRAS EM FLOR

ZÉ D'ALBUFEIRA            d.r.

Janeiro a entrar pelo mês do Entrudo, eis que se manifestam, mejestosas e seguras, incontornáveis na sua beleza natural, as últimas resistentes da luta, sempre desigual e sempre repetida, contra o crescimento urbano. As amendoeiras em flor.

À beira da plena floração, adornam com ternura os campos sequiosos do Algarve. Incomparáveis. Fascinantes até à medula. Alvura ímpar e inesquecível, a suscitar a memória das grandes lonjuras da neve branca e fria que o rei nórdico quiz um dia fazer reflectir no Algarve, para alegria e libertação da sua princesa encantada.

O espectáculo único, deslumbrante, encantador das amendoeiras em flor tolda-nos completamente os sentidos. Não tem, nos limites do imaginável, qualquer motivo de comparação a brancura rosada da neve algarvia.

Quase todos os poetas deste rincão sulino cantaram, cada um à sua maneira, as belezas infindáveis da floração das amendoeiras. Mas, para mim, o poema mais belo, mais encantador e mais condizente com o sentido profundo do povo genuíno do Algarve é aquele que um dia rimou a nossa conterrânea, a poetisa Marquinhas Elói ("Madressilva") - Maria da Conceição Elói de seu nome de baptismo.

Não me canso, por isso, de repetir - já é a terceira ou quarta vez que o faço neste blog, sempre com profundo amor pela minha terra e por aqueles que a souberam cantar superiormente - os versos dessa discreta mulher algarvia que aguarda, no recato dos ricos de espírito que aqui peregrinaram como simples, humildes, mortais, que à sua mensagem poética seja reconhecido pelos viventes o valor que ela realmente encerra.

*fotos ALBUFEIRAsempre

 

 

AMENDOEIRAS FLORINDO

AO LUAR

Maria da Conceição Elói 'Madressilva'

[n. Paderne em 31/08/1898  f. Faro em 7/12/1979]

.

Ao de leve

De mansinho

Cai a neve

No caminho…

 

E o luar desce do céu

Como um véu

De uma noiva encantadora,

Que a cismar

O estendesse a voar

Aos pés de Nossa Senhora.

 

E por toda a Natureza,

Como um murmúrio de reza

Fica nossa alma a sonhar,

Absorta horas inteiras

Na branca luz do luar,

Na flor das amendoeiras.

 

Umas de cândida alvura

- Que nem a neve mais pura –

E a cor das outras rosada,

Aquela mimosa cor

Com que o celeste Pintor

Tinge o céu de madrugada.

 

Charnecas são um encanto,

As planícies outro tanto

E assim,

Em cada canto e recanto,

O Algarve é um jardim!

 

E a lua sobe a sonhar,

Envolta em véu de tristeza,

Que a sua voz – o luar

Tem mistérios de beleza…

 

Anda um perfume ao de leve,

Vago e breve,

A evolar-se no ar…

No céu azul, luz e cor,

Há pétalas no caminho,

E o vento ensaia baixinho

Uma alegria de amor.

 

Vem o orvalho chorar

Pelos vales e montanhas

Diamantes a brilhar,

Em que depois o luar

Põe fulgurações estranhas

 

Oh! meu Algarve! Canteiro

Que no Inverno é mais lindo,

Com seu luar de Janeiro

E amendoeiras florindo!

 

Lançado na Biblioteca Municipal

albufeiradiario, 18.12.09

SANTOS SERRA

PUBLICA NOVO LIVRO DE POESIA

ZÉ D'ALBUFEIRA                                       

Manuel dos Santos Serra apresentou hoje na Biblioteca Municipal Lídia Jorge, perante uma plateia bem recheada de amigos e admiradores, a sua mais recente obra literária: o livro de poemas a que deu o sugestivo título de "Labirinto de Memórias".

Esta é a oitava obra publicada do ilustre médico, homem de letras e político albufeirense, à beira de completar a provecta idade de 84 anos. Uma vida inteira dedicada ao serviço dos outros, particularmente no desempenho da profissão que abraçou e ainda hoje exerce em plenitude no seu consultório da Rua Direita, lado a lado com uma muito intensa intervenção social ao longo de décadas. Mas também na prática de prestigiado trabalho intelectual, contínuo e profícuo, e no exercício combativo da cidadania. É por demais conhecida a sua acção cívica em prol de grandes causas populares, em Albufeira e no Algarve.

 

A poesia de

albufeiradiario, 10.06.09

Maria da Conceição Elói (Madressilva)

 

  Camões vivo em nós

.

Hoje faz anos que morreu Camões,

O iluminado épico imortal

D’ Os Lusíadas, que em todas as nações,

“Espalhou por toda a parte” Portugal.

 

Com seu “engenho e arte” magistral,

Erguendo ao alto nobres tradições,

Cobriu de glória a Pátria sem igual

E é uma glória em nossos corações.

 

Cantou como ninguém soube cantar,

E a sua vibração foi como o mar

Erguendo em notas de oiro a sua voz.

 

Centenas de anos datam esse dia,

E a mesma voz vibrante de energia

Ecoa, ainda, em cada um de nós!...